Manual de Iniciação ao Bridge

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Capítulo VII - Carteio; Aberturas em naipe pobre



As passagens - continuação
Vamos avançar um pouco mais no estudo desta técnica de carteio muito importante, já abordada no capítulo anterior.
Relativamente aos casos já estudados, resta acrescentar que as passagens se dividem em duas categorias:
passagem directa, em que o adversário não tem possibilidade de ficar em mão, desde que a passagem seja bem sucedida e passagem indirecta, sempre que o adversário pode ganhar uma vaza durante o processo de apuramento, mesmo quando a carta em falta esteja bem localizada para os interesses do declarante. Na primeira situação, um grupo de duas cartas enquadram a carta em poder do adversário, por exemplo, «AD». A este grupo de cartas dá-se o nome de fourchette (em francês, no texto). No caso da passagem indirecta, não existe fourchette.
I II III IV

 ªD82

 ªD82

 ªD8

 ªD8
¨ ¨ ¨ ¨

ªA75

ªA7

ªA75

ªA7

Em qualquer das situações anteriores, para realizar uma vaza com a
ªD é necessário jogar uma pequena carta em direcção à ªD, esperando pela colocação do ªR à nossa esquerda. Os casos em análise não são, contudo, todos iguais. No caso I nenhum problema, para além de se esperar pela boa colocação do Rei. As duas situações seguintes são um pouco mais embaraçosas. Com apenas 2 cartas numa das mãos, tal facto pode conduzir ao bloqueio do naipe, sendo necessário comunicar noutro naipe lateral. Finalmente, no último caso, não há qualquer hipótese da ªD fazer vaza a menos, claro, que se verifique algum erro defensivo. Com apenas 2 cartas em cada mão, mesmo com o ªR à esquerda, bastará à defesa jogar ªR sobre a pequena carta de Sul. Na jogada seguinte, ªD e ªA cairão na mesma vaza.

As passagens - a melhor hipótese de ganhar
Sendo a passagem uma técnica absolutamente fundamental como ferramenta de carteio, convirá utilizá-la com bom senso. Situações há em que tentar uma passagem diminui as hipóteses de realizar o máximo de vazas possíveis. Vamos começar por apresentar um exemplo caricato para melhor se perceber o sentido da nossa observação:

 ªARV1098
Apesar de faltar a Dama do naipe e de existir a fourchette em Norte para uma passagem directa, o facto do campo ter 11 cartas em linha torna a manobra absurda, uma vez que a ªD irá forçosamente aparecer quando se jogar ªA/R
¨

ª76543

 ªARV109
 

 ªARV109
No exemplo mais à esquerda é de considerar a hipótese da ªD poder cair debaixo de ªA/R, uma vez que a defesa apenas tem 4 cartas em linha.
Esta hipótese é muito mais remota no exemplo da direita, em que a defesa tem 5 cartas. O aparecimento da
ªD seca ou à segunda é muito pouco provável.
¨ ¨

ª7654

ª765
Concentremo-nos um pouco mais no segundo caso:
Sendo pouco provável que a
ªD caia nas 2 primeiras vazas, a melhor solução aponta para uma passagem directa. Joga uma pequena espada em direcção à mão de Norte e, caso apareça pequena em Oeste, joga o ª9. Se ganhar garantirá 5 cartas no naipe, se perder realizará apenas 4 vazas. As hipóteses de sucesso são de 50%. Os amantes do cálculo de probabilidades poderão facilmente verificar que estes 50% são bem superiores à linha de jogo alternativa, que é bater ªA/R sem qualquer passagem. Podemos ainda melhorar ligeiramente as nossas hipóteses de sucesso, ou seja, jogar a um pouco mais de 50%, batendo uma das figuras grandes para depois vir à mão de Sul e efectuar a passagem. Com esta manobra acumulamos aos 50% da passagem uns pontinhos percentuais para o caso da ªD seca, à direita. Não será grande coisa, mas...
Deixando as demonstrações matemáticas para os especialistas, podemos estabelecer os seguintes princípios:

Passagem ao Rei » Deve fazer-se a passagem ao Rei com um máximo de 10 cartas no campo. A partir de 11 cartas, bater o «A» à cabeça
Passagem à Dama » Deve fazer-se a passagem à Dama com um máximo de 8 cartas no campo. A partir de 9 cartas, bater «A» e «R» à cabeça
Passagem ao Valete » Deve fazer-se a passagem ao Valete com um máximo de 6 cartas no campo. A partir de 7 cartas, bater «A», «R» e «D» à cabeça

Recorde-se que se tratam de princípios e não de garantias. Na ausência de elementos exteriores que condicionem a forma de jogar, estas são as melhores hipóteses para se ganhar. Voltemos um pouco atrás

 ªARV109
 

 ªARV1095
No exemplo mais à esquerda afirmámos qe se poderia jogar a uma percentagem superior a 50%, batendo primeiro uma figura de Norte para só depois realizar a passagem.
No exemplo à direita, a situação parece igual, já que o campo tem as mesmas 8 cartas em linha. No entanto, se bater uma figura antes da passagem, apenas poderá realizar a passagem 1 vez, perdendo a hipótese de apanhar a
ªD na passagem, mas à 4ª...! Ou seja, na tentativa de apanhar uma «D» seca à direita, perdeu a hipótese, bem mais provável, por sinal, de apanhar a «D» à 4ª, à esquerda. Mau negócio...
¨ ¨

ª765

ª76

Preservar as fourchettes
Outra precaução a ter, diz respeito às "más" distribuições. Com:

 ªAD42
Falta o Valete e, de acordo com os princípios atrás enunciados, a forma correcta de jogar é bater o naipe "à cabeça". No entanto, existe uma precaução a tomar, que pode render os seus frutos. Mantendo a fourchette «R10», pode prevenir-se contra uma distribuição 4-1, à sua direita. Comece então por jogar o ªA, seguido da ªD. Se toda a gente assistir, como é de esperar,o problema fica resolvido. Se Oeste baldar à segunda, resta-lhe fazer a passagem ao ªV, jogando uma pequena espada de Norte para o ª10. De referir ainda que, com 4 cartas à esquerda, incluindo o ªV, o declarante terá de perder uma vaza no naipe. Isto porque não existe fourchette em Norte!
¨

ªR1063

 ªRV842
Uma vez mais, apesar de faltar a ªD, a existência de 10 cartas em linha aconselha a bater o naipe "à cabeça". Mas a existência da fourhette em Norte deve levar o declarante a começar por jogar a honra isolada - ªA. Se toda a gente assistir tudo segue normalmente. Se Oeste baldar, a perda de 1 vaza é inevitável. Mas se for Este a baldar, o declarante poderá evitar a perda de uma vaza, fazendo a passagem à ªD.
¨

ªA7653

Tendo em mente os princípios enunciados anteriormente, o declarante deverá tentar preservar o mais possível a fourchette, jogando, em primeiro lugar a(s) honra(s) da mão oposta. Desta forma estará a prevenir-se contra eventuais más distribuições o naipe nos adversários.

Aberturas em naipes pobres - primeiros desenvolvimentos
Ao longo deste curso foram já estudadas algumas aberturas: 1ST; 2ST; 1
©; 1ª; 2©; 2ª. No quadro abaixo, vamos relembrar as suas principais características:

ABERTURAS   FORÇA (HL) DISTRIBUIÇÃO

PRECISAS
1ST 15-17  Balançada
2ST 20-22  Balançada
2© 21-22  Unicolor ou Balançada
2ª 21-22  Unicolor ou Balançada

AMBÍGUAS
1© 13-22  Indeterminada
1ª 13-22  Indeterminada

A necessidade de utilizar as aberturas em naipes pobres
Como facilmente se verifica, existe um número considerável de mãos que não estão contempladas no quadro anterior. Para essas, a nossa solução até agora tem sido «Eu abro». A grande maioria destes casos será contemplada nas aberturas ainda disponíveis, ao nível 1
§ e 1¨. Tal como as aberturas ambíguas em naipe rico, as aberturas em 1§ ou 1¨ prometem 12H a 22HL mas terminam aqui as semelhanças, uma vez que o comprimento mínimo dos naipes de abertura é bem diferente. Assim:
1¨ - 12 a 22HL, sem ricos de 5 cartas*, com 4 ou mais cartas de oiros
Excepção: Com uma distribuição 4-4-3-2, 2 ricos de 4 cartas e 2 cartas de paus e uma força fora dos limites das aberturas de ST, abre-se em 1
¨ com apenas 3 cartas no naipe.
1§ - 12 a 22HL, sem ricos de 5 cartas*, sem oiros de 4 ou mais cartas, com 3 ou mais cartas de paus
* Existem excepções a esta regra mas, tratando-se de mãos muito especiais e raras deixaremos o seu estudo para mais tarde.
Exemplo 1   Exemplo 2   Exemplo 3   Exemplo 4   Exemplo 5   Exemplo 6
ªD94
©
A75
¨R1063
§
A53
ªRD64
©
A952
¨A3
§
1083
ªR109
©
A82
¨RD863
§
AD
ªAD5
©
5
¨R973
§
DV1032
ªRV75
©
6
¨RD65
§
RD63
ªR1087
©
A543
¨R103
§
R5
1¨ 1§ 1¨ 1§ 1¨ 1¨

Nos exemplos 1 e 2 estamos em presença de mãos balançadas mas com força insuficiente para abrir em 1ST: 1
¨ no exemplo 1 por ter 4 cartas no naipe, 1§ no exemplo 2 por não ter ricos de 5 nem 4 cartas de oiros. O exemplo 3 mostra também uma mão balançada, desta feita com força superior à da abertura em 1ST e inferior à da abertura em 2ST.Com 5 cartas de oiros a solução é abrir em 1¨. No exemplo 4 temos uma mão de estrutura bicolor. Apesar das 4 cartas em oiros a abertura correcta é 1§, uma vez que se trata do naipe mais comprido. No exemplo 5, uma mão tricolor, com a abertura a ser em 1¨, apesar do naipe de paus também reunir as condições necessárias para abrir. Mas, em caso de igual número de cartas, desde que reunidas as condições mínimas impostas pelo sistema, abre-se no naipe de hierarquia superior (esta regra é também válida para os naipes ricos). Finalmente, no exemplo 6, a mão é balançada mas aquém da força necessária para a abertura de 1ST. Não havendo 3 cartas de paus nem 4 cartas de oiros, estamos em presença da excepção atrás referida: a abertura é em 1¨.

Uma abertura em naipe pobre faz-se no naipe mais comprido e promete:
» 12H a 22HL
» 3 ou mais cartas no naipe de abertura. No caso da abertura em 1
¨ naipe só terá 3 cartas no caso da distribuição 4ª-4©-3¨-2§



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