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O BRIDGE É UM DESPORTO OU UM PASSATEMPO?

por Manuel Oliveira

O Bridge é um desporto ou um passatempo?

Uma resposta a esta questão, que pode parecer menor, esclareceria provavelmente muitos dos equívocos que envolvem a prática do jogo e permitiria talvez melhorar significativamente o ambiente da competição e resolver outros problemas que considero serem responsáveis pela degradação que se verifica na modalidade.

Existem três formas de jogar bridge:

  • A partida livre, ou 'bridge social' que é normalmente jogado em casa embora ainda existam ou resistam, meia dúzia de mesas nos clubes.
    Este bridge é claramente um passatempo; joga-se despreocupadamente como se joga canasta, king, bisca ou ramy.
  • A competição oficial, organizada pela Federação e pelas Associações Regionais, que é, ou pelo menos deveria ser, uma actividade desportiva visto que a Federação a tal se candidatou e assim está reconhecida.
  • E a competição não oficial composta pelos torneios organizados pelos clubes e por outras entidades em que se incluem os chamados Festivais.

Ora o bridge de clube ou de festival não é certamente uma actividade desportiva, embora possa ser mais que um mero passatempo, sobretudo os festivais em que há quase sempre prémios monetários e envolvem custos para os participantes.

Não se deve pois confundir o bridge dito desportivo e o restante bridge de competição.
O que acontece é que os participantes são praticamente os mesmos, e a sua maioria não possui qualquer preparação desportiva.
E como os praticantes de bridge de competição não têm em geral formação desportiva e como os dirigentes desportivos no bridge são simultaneamente praticantes, a modalidade é dirigida por pessoas sem a necessária formação.
E aparentemente ninguém os obriga a tê-la o que se me afigura um erro grave.

Com a entrada em vigor dos novos estatutos que reformularam a estrutura organizativa de forma a obedecer às leis que regem a actividade desportiva oficial, a situação, que já não era boa, agravou-se significativamente.

A principal preocupação dos dirigentes é a sobrevivência económica do bridge desportivo, e daí inundarem o calendário com provas de todo o tipo para gerar receitas.
E isto leva a que, por um lado, os dirigentes tenham pouca disponibilidade para o essencial que é o de terem estatutos e regulamentos bem elaborados, fomentarem a prática verdadeiramente desportiva e formarem os praticantes para ela, e por outro lado, o excessivo número de provas tende a banalizá-las e conduz á deterioração da sua importância desportiva.
Hoje em dia quase que não existem diferenças entre as provas oficiais - os campeonatos - e as provas particulares - os torneios.

Vem isto tudo a propósito da forma como um grande número de praticantes encara o jogo.

Não pretendo com este artigo ensinar ética, boas maneiras ou bons costumes aos jogadores de bridge.

Mas espero contribuir para transmitir, sobretudo aos que jogam há menos tempo, algumas ideias sobre a 'forma de estar' em competição, com o parceiro e com os adversários, e sobre o modo como um par pode progredir em termos de entendimento.

Uma faceta particular do Bridge é que nem é uma modalidade colectiva - de equipa - como a maioria delas é, nem é uma modalidade individual como o atletismo, a natação ou o xadrez, que embora possam ter classificações colectivas, dependem da prestação individual.

O bridge é um jogo de pares.

E logo aqui se vê a impreparação da esmagadora maioria dos jogadores para o praticarem.
Não estou a escrever novidade nenhuma se constatar que, para um jogador, o parceiro não representa ele próprio sentado do outro lado da mesa. É mais a pessoa que comete erros, que estraga a sua performance, que não sabe marcar, carteia muitas vezes mal e está frequentemente distraído.
Apesar do bridge ser um jogo de pares, raros são os jogadores que jogam sempre ou quase sempre com o mesmo parceiro, e ainda mais raros os que, tendo um parceiro habitual, se preparam com ele para a competição.
E esta é a principal causa da baixa qualidade do bridge de competição que praticamos.
O jogador de bridge de competição que queira progredir tem que:

  • Estudar bridge - para progredir em competição é necessário estudar.
  • Encontrar um parceiro que tenha um nível próximo do seu (sei que não é fácil avaliar com objectividade dado que somos nós próprios o termo de comparação) e de quem seja amigo.
  • Aprofundar com o parceiro o sistema de marcação na procura de soluções para leilões específicos, e na tentativa de encontrarem as mesmas respostas para situações semelhantes.
    Mas evitar jogar convenções que normalmente não dominam, até na sua filosofia. As convenções vão-se introduzindo num sistema à medida que se domine bem os seus princípios de base e se forem detectando lacunas.
  • Analisar com o parceiro os flancos falhados e procurar soluções para os evitar.
  • Evitar discutir ou endossar as culpas para o parceiro, sobretudo à mesa, procurando em vez disso, que sejam os dois a analisarsem a prioris o que terá corrido mal e como o evitar de futuro.

E para bem do bridge de competição é fundamental que o jogador:

  • Respeite os seus adversários quer humana quer tecnicamente e que tente manter em todas as circunstâncias um ambiente descontraído e simpático à mesa de jogo.
  • Respeite e cumpra as regras da competição e quem é responsável pelo seu cumprimento: árbitros e dirigentes.
  • Exija a uns e a outros, e a todos os praticantes, o cumprimento dessas mesmas regras.
  • Não utilize subterfúgios ou eventuais lacunas ou indefinições das regras para se aproveitar de vantagens a que, em boa consciência, sabe não ter direito.

Se cada um de nós conseguir respeitar e contribuir para que se respeitem este e outros princípios da conduta desportiva, tenho a certeza que teremos muito mais prazer no futuro em praticar esta modalidade e que conseguiremos trazer mais gente para jogar connosco.