B4F

boletim informativo
EDITORIAL

A entrada no novo ano não aconteceu da forma que pensávamos ser possível. A esperança na retoma da actividade esfumou-se com o dramático agravamento da pandemia e o regresso ao pano verde ficou uma vez mais adiado.

Desde Março de 2020 que o B4F tem empenhado o seu esforço em proporcionar aos bridgistas a oportunidade de se manterem activos nas condições possíveis. Foram muitos os eventos que organizámos online e que tiveram a adesão de centenas de praticantes. No quadro actual continuaremos na linha da frente para levar o bridge a vossas casas e para nos mantermos em contacto. Podem contar connosco!

O aparecimento de uma nova plataforma para o bridge online (Real Bridge) traz-nos uma nova janela de oportunidades, uma vez que o sistema retrata as condições do bridge presencial, através da utilização das câmaras dos nossos computadores e do audio. Com esta tecnologia sentamo-nos à mesa com o nosso parceiro e com os nossos adversários, vemo-nos e falamos e assim conseguimos minimizar algumas das limitações a que a pandemia nos obriga. 

Assim, a partir do início de Fevereiro iremos organizar um torneio semanal homologado pela FPB que terá um custo de 1,20€ para os sócios B4F e 1,80€ para os não sócios para torneios até 20 mãos. Para o efeito o B4F vai criar uma conta corrente para cada praticante que queira aderir ao projecto onde cada um deverá depositar 20€, aos quais serão abatidas as importâncias por cada torneio jogado. O B4F não terá qualquer retorno financeiro desta iniciativa. O valor simbólico pago pelos praticantes cobre os custos de utilização da plataforma (0,44€/jogador), homologação (0,30€/jogador) e arbitragem (0,40/jogador), que será coordenada pelo António Eanes. A receita apurada será destinada a prémios, reflectidos em créditos na conta-corrente dos premiados. 

Aos sócios B4F e a todos os que se queiram juntar a nós lanço um apelo: paguem as vossas taxas de licenciamento. A FPB precisa do nosso apoio para se manter em actividade e sem praticantes não há bridge. Creio que será fácil a cada um perceber quais são os efeitos dramáticos da pandemia para a FPB, privada de duas das suas principais fontes de receita – homologação das provas e receitas das inscrições. A isto se juntou em 2020 uma outra lamentável realidade com a perda de receitas nas taxas de licenciamento. Este apelo é para dentro do B4F, para os seus sócios e para todos os que se queiram juntar a nós, mas também para todos os praticantes em geral, independentemente das suas preferências clubísticas. 

O novo ano será também o primeiro dos últimos quase quarenta anos em que deixarei de exercer funções quer na arbitragem quer nas diferentes estruturas federativas. Vou fazer com mais frequência o que mais gosto de fazer: jogar bridge. Vou ter também mais tempo para dar a este projecto B4F a que me orgulho de pertencer. A todos os que me acompanham nesta já longa viagem os meus agradecimentos.

A toda a família B4F o meu sincero abraço pela vossa sempre presente colaboração neste projecto. Vamos continuar!

Luis Oliveira 

 

BREVES

Duas equipas seniores portuguesas participam na Transatlantic Senior Cup, prova que reune 38 formações e onde militam alguns dos melhores jogadores do Mundo. A prova decorre no BBO tem transmissão de vugraph, mas não há permissão para espectadores nas restantes mesas. Podem aceder a toda a informação por aqui

O B4F está disponível para estabelecer protocolos com outros clubes para o projecto Real Bridge. Para o efeito iremos contactar com todos os clubes licenciados na ARBL e contamos já com a adesão do Clube Bridge dos Engenheiros. O convite é também extensível a clubes de outras Associações Regionais. Juntos somos mais fortes.

O B4F PARA 2021

 A evolução da pandemia veio alterar as nossas intenções para a retoma presencial de actividade. Adaptaremos a nossa estratégia às condições, no absoluto respeito pelas regras sanitárias, mas continuaremos a trabalhar para levar o bridge a casa dos praticantes e a estar na linha da frente na defesa do bridge desportivo e das suas Instituições.

 

 

O CANTINHO DA TÉCNICA

É hoje uma noção generalizada sobre a importância do DOBRE nas acções competitivas. Diria que no bridge moderno para cada situação competitiva específica existe, pelo menos, uma voz de DOBRE. Com esta evolução os dobres punitivos foram perdendo força e, nos dias de hoje, poucas são as parcerias que continuam a ter na sua bagagem dobres com intenção punitiva abaixo do nível de partida. Aos velhinhos dobres de chamada, negativos, competitivos e responsivos foram-se juntando muitos outros. Em 2002 Mike Lawrence publicou um dos seus livros mais interessantes – Double! New meanings for an old bid – e já nessa altura abordava uma extensa utilização dos dobres nas diversas situações competitivas. 

Está em SUL e tem a seguinte mão:

♠ V98765
♥ 2
♦ V1076
 82

O leilão foi:
Oeste     Norte     Este     Sul
1           DBL        4♥       ?

Se pertence ao grupo dos jogadores que entendem não ter nada a ver com isto veja as 4 mãos

                                 ♠ AD10
                                 ♥ 87
                                 ♦ RD43
                                 ♣ R1094
♠ R43                                                     ♠ 2
♥ AD1093                                             ♥ RV654
♦ A2                                                       ♦ 985
 A53                                                      DV76
                                 ♠ V98765
                                 ♥ 2
                                 ♦ V1076
                                 ♣ 82

Apesar dos 16 pontos em linha NS ganha 4♠. Já está arrependido de ter passado? Devia estar!

Está em SUL e tem a seguinte mão:

♠ 94
♥ 962
♦ 106
 RV8632

O leilão foi:
Oeste     Norte     Este     Sul
4           DBL        P          ?

E agora? Eu imagina o que está a pensar. Com uma super mão no parceiro eles podem perder o contrato e mesmo que ganhem melhor 590 que 800 ou 1100 na linha deles. Talvez… As 4 mãos eram

 

                                 ♠ RD108
                                 ♥ 4
                                 ♦ AD42
                                 ♣ AD97
♠ 72                                                       ♠ AV653
♥ AD108753                                         ♥ RV
♦ R987                                                   ♦ V52
 —                                                        1054
                                  ♠ 94
                                  ♥ 962
                                  ♦ 106
                                  ♣ RV8632

Se pertence ao grupo dos que passam a 4 dobradas tem a consoloção de ter acertado em metade do raciocínio: efectivamente eles vão marcar 590 na coluna. Já quanto à segunda parte as coisas não são bem assim uma vez que 5 não se podem perder.

Continua em Sul com:

♠ D
♥ RV1052
♦ 32
 ADV92

O leilão foi:
Sul     Oeste     Norte     Este
1      1♠              P         2♠

A abertura mínima com a inútil D aconselha-o a passar, até porque mostrar o seu segundo naipe vai levar o parceiro a achar que tem uma abertura forte. A mão do seu parceiro era:

♠ 8654
♥ D4
♦ 987
 R1053

Os adversários vão seguramente marcar 4♠ e tudo parece estar bem até se perceber que perdeu uma excelente defesa em 5♣. Mas, desta vez, a culpa não foi nossa. Será assim?

Imagine que na sua longa bagagem de convenções e entendimentos consta uma visão diferente em que a repetição ou a mudança de naipe não promete extras mas sim distribuição e que o DOBRE é a solução para os extras. Se assim fosse poderia Sul ter marcado 3♣ e Norte não teria dificuldade em defender: as 4 cartas de espadas garantem um singleton ou mesmo chicane no parceiro, a ♥D é uma mais-valia e os 4 trunfos devem “fechar” o naipe e, a menos que tenham dado mais de 13 cartas ao parceiro não poderá ter mais de 3 oiros se chicane a espadas ou 2 oiros se singleton a espadas.

Se a mão de Sul fosse:

♠ 8
♥ ARV105
♦ 32
 ADV92

O leilão foi:
Sul     Oeste     Norte     Este
1      1♠              P         2♠
?

O rebide seria DOBRE e a linha NS ganhava 4♥ ou 5♣. 

Esta abordagem às mãos distribucionais em competição abre, em nosso entender, uma nova janela de opções para combater a agressividade adversária. 

 

 

ESPAÇO DE OPINIÃO E ENTREVISTA

Após uma série de entrevistas a praticantes com funções institucionais, vamos lançar o desafio aos praticantes com diferentes currículos no bridge, porque todos são importantes para a modalidade. Acreditamos ser fundamental para fazer crescer a modalidade ter em linha de conta as diferentes perspectivas, entendê-las e aceitá-las. 

Para este mês fomos à lista dos associados do B4F e optámos por lançar o desafio ao Manuel Oliveira, sócio B4F com mais títulos conquistados, integrou a formação que conquistou o último Campeonato da Comunidade Europeia, para além de muitas outras participações em representações nacionais. Para além disso tem uma participação constante na vida associativa. O outro entrevistado é o João Pedro Gomes que de há muitos anos a esta parte é coordenador do núcleo de bridge do Banco de Portugal onde se têm desenvolvido inúmeras acções de formação e organização de eventose desde a primeira hora “militante” do B4F. Duas gerações de bridge e duas visões seguramente diferentes mas também seguramente complementares.

1 – Falem-nos um pouco do vosso trajecto no bridge. Como e quando começaram a jogar e quais os vossos objectivos enquanto praticantes.

(MO)
Aprendi a manejar bridge numa engenhoca que o meu pai comprou para ele e julgo que nunca usou, chamada salvo erro ‘auto-bridge’ que foi o precursor nesta área dos computadores; mais tarde, por volta dos 15 anos comecei a aprender a jogar à mesa com o Rui Silva Santos e os pais dele que nos ensinaram as primeiras frases. A instrução primária e o liceu fiz com amigos da mesma idade  entre os quais, para além do Rui, o Paco (Francisco Costa-Cabral) – nomeadamente no Triângulo Vermelho – sendo que a esmagadora maioria dos outros abandonou completamente o jogo ou brinca em casa com amigos.
O meu grande – para não dizer único – objectivo no bridge, como de resto na outra modalidade desportiva que pratiquei – o voleibol – foi tentar fazer sempre melhor que é como quem diz, errar o menos possível. Tal como na vida.

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Tive o meu primeiro contacto com o bridge no inicio do século, através dos cursos de iniciação promovidos pelo Grupo Desportivo do Banco de Portugal, no âmbito da sua secção de bridge (que tem já mais de 20 anos). Desde aí, se bem que com regularidade intermitente, tenho praticado de forma constante. Há mais de 10 anos sou também responsável pela secção de bridge do GDBP, tendo tentado também promover cursos de iniciação e aperfeiçoamento regulares, por forma a captar novos entusiastas para a modalidade.

2 – Três palavras para melhor definirem o bridge

(MO)
Embora não goste muito de definições, o bridge para mim pode-se definir em 3 palavras: ‘melhor passatempo possível’; também podia ser  ‘o melhor passatempo que existe’ mas aí seriam 5 palavras. Além de puxar pela cabeça (para quem não seja mentalmente preguiçoso) tem a grande vantagem de se poder jogar desde muito cedo e ao longo de quase toda a vida.

(JPG)
Inesgotável desafio e divertimento

3 – Pensando na necessidade de fazer crescer a modalidade em que focos se deveriam concentrar prioritariamente as Instituições e os Clubes?

(MO)
Francamente não sei se o foco deverá ser ‘fazer crescer a modalidade’; pessoalmente focar-me-ia em contribuir para a dita ser mais bem jogada  e sobretudo com verdadeiro espírito desportivo que é o que lhe falta mais. Para mim o Bridge não é propriamente uma modalidade desportiva e muito menos um desporto de massas. Como disse antes, é um óptimo passatempo e acho que não vale a pena tentar impingi-lo à juventude; para além do respeito pelo próximo e dos valores morais que são sagrados para mim e exijo aos outros, cada um que se entretenha como quer e gosta.

(JPG)
Na promoção da modalidade junto dos mais jovens, única forma viável de manter e aumentar o número de praticantes.

4 – A captação de jovens para a modalidade tem sido um dos maiores problemas no seu desenvolvimento. O que falta para atrair os mais jovens? Como adaptar a divulgação e ensino do bridge ao mundo tecnológico em que vivemos?

(MO)
No fundo já respondi na anterior. Mas refiro o ensino do bridge porque a ele me dediquei durante algum tempo: se (tentar) ensinar  pessoas maduras é muitas vezes frustrante porque elas verdadeiramente não querem aprender mas tão só conviver, ensinar e motivar jovens é ainda mais difícil porque, para além de exigir qualidades pedagógicas que não estão ao alcance de todos, se tem como adversários poderosos a volatilidade e a superficialidade da sociedade actual. (Eu sei, estou velho, pronto). 

(JPG)
Parceiras com escolas, associações culturais e atividades de tempos livres para a realização de cursos de iniciação gratuitos e campeonatos juvenis poderiam incentivar e ajudar a captar novos praticantes para a modalidade. Uma estratégia completa que passasse por promover cursos de iniciação e simultaneamente criar torneios e eventos (por exemplo, integrados em semanas culturais ou desportivas escolares), bem como o recurso à oferta de cursos para atividades pós-escolares, desenvolvidas no âmbito das escolas ou ATL.

5 – O bridge e os media ou a história de um “namoro” inconsequente. Como se pode dar visibilidade ao bridge no espaço mediático?

(MO)
Passo; como estou cada vez mais ‘zangado’ com o espaço mediático, quanto menos melhor.

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Confesso que não sei. Para que o Bridge tenha espaço mediático e impacto nos potenciais praticantes, tem de ser alvo de interesse. O que está longe de ser o caso. O que de melhor pode acontecer a uma modalidade é a existência de feitos com impacto internacional. Os media andam normalmente a reboque dos acontecimentos, pelo que nada como ter um título mundial de relevo para chamar a atenção sobre a modalidade. Aconteceu em casos como o Judo, o Salto em Comprimento e o Remo. Difícil, certamente. Impossível? Não sei…

6 – Em tempos tão difíceis como os que estamos a viver, como se recupera a confiança dos praticantes e o que devemos fazer para minimizar os efeitos desastrosos que a pandemia está a provocar?

(MO)
Graças às plataformas internéticas, o Bridge tem sido um grande bálsamo para quem o joga. Existe no entanto o risco de as pessoas se habituarem a jogar em casa e perderem o hábito de conviver, o que é mau para a saúde mental e para o prazer de viver. Recuperar a confiança não depende de boas vontades, mas apenas da irradicação completa do bicho ou da sua redução ao estatuto de qualquer gripe.

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Em relação a outras modalidade, o Bridge tem uma pequena vantagem comparativa, por ser possível desenvolver a sua prática online de forma menos impactante que noutras modalidades. As iniciativas que têm sido promovidas neste âmbito (por exemplo, pelo B4F) têm ajudado a manter a ligação e o envolvimento dos praticantes. Neste sentido, penso que a situação atual terá um efeito menos disruptivo no Bridge do que terá certamente em outras modalidades. Não obstante, o regresso ao encontro físico, se bem que naturalmente desejável, será um desafio acrescido pelas características da sua prática e dos seus praticantes. Neste sentido, não tendo eu a resposta sobre qual a melhor estratégia, parece-me que tal regresso à normalidade terá de ser muito bem pensado e implementado.

7 – Um livro, um filme, uma cidade. Três referências que vos saiam espontaneamente.

(MO)
Como sou iconoclasta convicto, embora goste muito de ler e seja praticante activo, não tenho ‘um livro’; tenho sim autores preferidos mas que vão variando ao longo do tempo e à medida que a minha vida se desenrola. Estou ao dispor para sugerir mas depende do gosto de cada um.
Além disso não sou cinéfilo e prefiro de muito longe a praia à cidade. Já para não referir que de espontâneo tenho muito pouco, para além de uma ou outra reacção, digamos, epidérmica.

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Ficções de Borges, Era uma vez no Oeste de Leone, Londres (do mundo)

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