B4F
boletim informativoEDITORIAL
O bridge federado atravessa um período muito difícil. A crise pandémica veio dar muito maior visibilidade a uma realidade que já existia, agora acelerada pela interrupção da prática competitiva durante largos meses.
O aparecimento da plataforma Real Bridge veio permitir a retoma de provas oficiais e de clubes, mas não deixa de ser uma solução temporária e com significativas diferenças sobre o bridge presencial. Poderei, sem receio de errar, afirmar que a grande maioria dos praticantes prefere o bridge presencial porque a sociabilidade que o jogo promove é uma das suas principais virtudes e o online, amenizando a falta de convívio entre praticantes, está longe de lhe poder ser comparável.
Outra das matérias em discussão prende-se com a segurança das provas online. É evidente que o online é mais permissivo que o bridge presencial para comportamentos desviantes da verdade desportiva, pelo menos no plano teórico. Já a prática é um pouco diferente, como sabemos. A discussão sistemática de jogos à mesa ou nos espaços “neutros” como seja a ida ao bar ou aos locais de fumo entre posições, a exiguidade das instalações disponíveis para muitas das provas do calendário oficial, a livre circulação de mirones entre mesas e a falta de rigor de alguns agentes que têm por obrigação cumprir e fazer cumprir regulamentos e códigos de conduta reduz de forma significativa a diferença entre provas online e provas ao vivo.
A esta discussão há que acrescentar um factor importante que é sistematicamente ignorado: como reganhar a confiança dos praticantes.
O que têm feito os Órgãos Institucionais para criar as condições de um regresso às salas de torneio com confiança e em segurança?
Que interacção tem havido (se é que houve alguma) das Instituições que regem o bridge desportivo com praticantes e clubes de bridge?
Nos meses mais próximos estaremos, em meu entender, ainda longe da retoma da normalidade pré-pandemia, pelo que me parece inevitável que tenhamos de conviver mais algum tempo com o bridge online para as provas com maior afluência de praticantes.
Uma nota ainda para as regras de segurança que estão activas e que me parece carecerem de ajustes. O exemplo mais flagrante tem a ver com a possibilidade de praticantes não vacinados poderem participar em provas presenciais. Não estando em causa a liberdade individual de quem decide não se vacinar, essa liberdade não pode, em circunstância alguma, condicionar a liberdade de todos os outros que sentem esta decisão como um ataque à sua segurança e à sua saúde.
Em democracia as minorias têm de ser respeitadas e ouvidas. Mas a liberdade individual acaba exactamente na fronteira da liberdade do outro. E “o outro” neste caso é a esmagadora maioria dos praticantes.
Finalmente, permitam-me regressar ao primeiro parágrafo deste editorial para enquadrá-lo em factos concretos. Em 2020 verificou-se uma significativa erosão de praticantes ao nível nacional com o argumento de que não havendo provas oficiais não se justificava estar a pagar taxas de licenciamento. Já várias vezes abordei este tema por considerar esta uma posição inqualificável e que asfixiou financeiramente a FPB. Em 2021 as condições foram-se alterando, com várias provas do calendário federativo a serem jogadas online, com vários clubes a retomarem (também online) as suas actividades pelo que seria expectável que a situação relativamente a 2020 se alterasse significativamente.
O que se verifica nesta altura é que só na ARBL houve 93 praticantes que não renovaram o seu licenciamento. Para se ter uma ideia da importância deste número será bom lembrar que corresponde a mais de 40% dos licenciados na ARBL. Verdade que se verificaram algumas refiliações e alguns novos licenciamentos que amenizaram o efeito devastador desta realidade, mas isto tem obrigatoriamente de lançar sinais de alerta para os nossos dirigentes.
Numa altura em que desaparecem licenciamentos e clubes de bridge é fundamental uma resposta pronta dos dirigentes regionais e nacionais. É necessário ouvir os praticantes, saber as causas do seu afastamento e encontrar soluções para o seu regresso. É necessário interagir com os clubes, falar com os seus dirigentes e praticantes, perceber as diferentes realidades de cada um e encontrar soluções. A escolha está entre agir já ou caminhar a passos largos para o fim. A menos que o objectivo seja o de fazer regressar o bridge aos tempos de uma modalidade elitista, o que não acreditamos ser o caso.
O B4F continuará a defender os princípios que conduziram à sua formação. Lutaremos por uma modalidade aberta e democrática, em que todos os praticantes, independentemente das suas qualidades técnicas, tenham o mesmo peso institucional e mereçam o mesmo respeito. Estamos, como sempre estivemos, abertos ao diálogo com as Instituições que regem o bridge e com todos os clubes, sem excepção. As soluções para os problemas que todos enfrentamos carecem da procura de consensos.
Podem os Órgãos dirigentes da FPB e da ARBL contar com o nosso apoio activo na procura de soluções. Podem os clubes contar a nossa disponibilidade para dialogar e definir princípios de cooperação. Podem os praticantes, sócios ou não sócios do B4F, confiar na nossa férrea vontade de lutar lado a lado na procura de um futuro para a modalidade.
Porque o bridge é a nossa paixão!
Luis Oliveira
BREVES
Os sócios do B4F têm-se destacado por uma significativa presença nas provas regionais e nacionais do calendário desportivo e com alguns resultados que merecem o nosso destaque. No Campeonato de Pares de 2ª categorias preenchemos o pódio com Isabel Sarmento e Miguel Sarmento a sagrarem-se campeões na especialidade seguidos por Céu Branquinho – Victor Ferreira (2º lugar) e Patrícia Macedo Santos – Frederico Macedo Santos (3º lugar). Ainda nessa prova o destque para a participação de 14 sócios B4F entre os 30 praticantes em prova.
Vitória também de uma equipa composta maioritariamente por sócios B4F no Campeonato de Equipas da ARBL e de mais sócios do clube a integrarem formações apuradas para a prova nacional.
Na fase de apuramento da prova nacional foram apurados para os quartos-de-final 4 equipas com praticantes licenciados pelo clube. Também a final do Campeonato de Pares da ARBL contará com sócios B4F.
Com isto se prova sermos uma força viva do bridge regional e nacional, com um contributo precioso para a modalidade, numa altura em que ventos de crise ameaçam transformar-se em fortes tempestades.
INQUÉRITO AOS SÓCIOS
Numa altura em que a discussão sobre o regresso do bridge presencial está na ordem do dia o B4F tomou a iniciativa de lançar um inquérito aos seus praticantes com questões que consideramos relevantes para a discussão em causa e cujos resultados apresentamos aqui:
Participaram no inquérito 60% dos nossos sócios. Não sendo ainda o índice de participação que desejávamos, é um número bastante revelador da vontade maioritária dos nossos sócios em participar activamente na vida do clube. Vamos então à análise das respostas às questões colocadas:
1- Entende existirem condições para o regresso do bridge presencial?
SIM – 45%
SIM COM RESTRIÇÕES (uso de máscara, cumprimento de normas da DGS, etc…) – 38,3%
NÃO – 16,7%
Conclusão: sendo largamente maioritária a opinião favorável ao regresso ao bridge presencial, a grande maioria dos votantes pelo Sim colocam restrições que se pendem com a necessidade de garantir o cumprimento das regras de segurança relativas a comportamentos individuais e à garantia de espaços que apresentem condições.
2- A segunda questão dizia respeito ao tipo de provas que podiam ser realizadas presencialmente
Pares ou equipas – 72%
Só equipas – 20,6%
Só pares – 7,4%
3- Que medidas de segurança entende serem necessárias?
Certificado de vacinação ou teste de 48h – 60%
Medição de temperatura e limitações de circulação – 6,7%
Protecção dos materiais de jogo (1 colecção de carteiras/mesa) – 33,3%
Esta é a questão mais elucidativa de todo o inquérito. Havendo uma maioria de praticantes com vontade do regresso ao bridge presencial é evidente que uma significativa maioria não está disposta a fazê-lo a qualquer custo. À atenção de quem de direito, principalmente dos que defendem o regresso incondicional à “normalidade”.
4- São muitas as dificuldades em encontrar espaços para o bridge. Concorda que o bridge online pode ser uma alternativa para as provas de clube?
SIM – 86,7%
NÃO – 13,3%
Uma esmagadora maioria considera importante a coabitação entre o bridge presencial e o bridge online na vida dos clubes.
5- Sabendo-se que existem praticantes não vacinados o que entende que deve ser feito?
Impedir a participação destes praticantes em provas oficiais – 55%
Permitir a participação desde que haja concordância expressa dos restantes – 31,7%
Permitir a participação sem restrições – 13,3%
Esta é uma questão muito importante porque pode vir a condicionar todas as anteriores e um sinal muito claro que a vontade maioritária dos praticantes para o regresso do bridge ao vivo está longe de ser incondicional.
O B4F e a vida institucional
O mês de Novembro é crucial para o bridge desportivo. Ao longo do mês deverão decorrer as AG’s da FPB e da ARBL para discussão e votação do Orçamento e Plano de Actividades para 2022. Os delegados do B4F na AG da FPB, bem como o representante do Clube na AG da ARBL irão participar activamente em ambas e levar aos respectivos colectivos as posições expressas pelos seus sócios.
O sentido de voto terá sempre em conta as propostas que constem quer do Orçamento, quer do Plano de Actividades e que pretendemos discutir com os nossos associados logo que os mesmos nos sejam apresentados.
Também em Novembro realizaremos a AG do clube com a mesma Ordem de Trabalhos. Oportunamente enviaremos os documentos necessários para vossa análise e desde já reforçamos que estamos disponíveis para neles incluirmos todas as alterações ou propostas que venham a ser discutidas e aprovadas em AG.
ESPAÇO DE OPINIÃO
No Boletim deste mês decidimos incluir um texto que nos foi enviado pelo nosso associado Manuel Oliveira que aborda o tema do momento sobre a vida da modalidade. Pela sua oportunidade e pela importância do tema interrompemos assim o espaço habitualmente dedicado a entrevistas, que retomaremos no próximo número.
“ É evidente para todos que a pandemia deu uma enorme facada no Bridge, não só no de competição mas também no chamado Bridge social.
Felizmente já existia o BBO e com o aparecimento do Real Bridge esse impacto foi de certo modo atenuado.
Vemos inclusivamente muitas pessoas não habituais nos torneios de Clube e menos ainda nas provas oficiais a jogar agora no Real Bridge.
Mas a questão preocupante é: será que a retoma do Bridge presencial vai ser conseguida a curto prazo? Eu tenho sérias dúvidas; as restrições e obrigações são ainda muitas para que as pessoas se sintam confortáveis a jogar.
O número de inscritos no Campeonato Regional de Equipas Mistas é um bom exemplo.
Neste momento desconheço ainda se as 20 equipas que conquistaram o direito de disputar o Nacional Open confirmaram a sua presença, mas confesso que as condições em que ele se vai disputar resultantes das normas em vigor não são nada agradáveis. Eu próprio só estarei presente por obrigação, sobretudo para com a minha equipa, mas se pudesse escolher não jogava.
Compreendo que do ponto de vista da sobrevivência financeira é muito duro para a FPB e para os (poucos) clubes que têm as portas abertas, mas as restrições existentes tiram muito do prazer do jogo.
Oxalá que essas restrições desapareçam rapidamente, mas, para isso é preciso que o número de casos de contaminação se torne residual e os perigos associados diminuam drasticamente.
E, claro a média etária dos praticantes não ajuda em nada esta situação; é perfeitamente compreensível que se as pessoa não se sentirem confortáveis prefiram ficar em casa a jogar na internet.
Francamente, e oxalá me engane, temo muito pela sobrevivência dos Clubes e Federação. Pela minha parte resta-me saudar a coragem que demonstram ao resistir e desejar que este pesadelo termine rapidamente.”
Manuel Oliveira
Um abraço
Manel
0 Comments