B4F

boletim informativo
EDITORIAL

Inevitavelmente o editorial do mês e uma boa parte deste boletim é dedicado aos Campeonatos do Mundo onde participaram 2 selecções nacionais: Feminina e Mistos.

A equipa de Mistos partia para estes Campeonatos com legítimas aspirações a uma boa classificação, depois de se ter brilhantemente apurado no grupo europeu. As expectativas não se confirmaram e a classificação final está longe de reflectir o potencial da equipa. Ao longo da competição foi-se tornando evidente alguma instabilidade competitiva. As inesperadas (e pesadas) derrotas contra a Croácia (14º), Índia (18º) e outras derrotas menos expressivas, mas contra equipas perfeitamente ao nosso alcance, deitaram por terra alguns excelentes resultados, como foram as vitórias sobre Austrália (10º), Bélgica (3º) e Itália (5º). Vamos esperar que este resultado menos bom (15º lugar) seja corrigido nos Campeonatos da Europa. Qualidade para isso temos!

A equipa Feminina, pelo contrário, excedeu todas as expectativas. Sabia-se à partida que iam enfrentar um cenário competitivo muito complicado. Não só pela qualidade de muitas das adversárias, mas pelo facto de, com  apenas 4 jogadoras, terem de jogar todos os encontros, todas as mãos. Se a competição já é dura em condições de igualdade numérica pode imaginar-se o esforço colossal que lhes foi exigido. Parece evidente que muitos erros cometidos tiveram mais a ver com o cansaço que com a qualidade técnica das nossas jogadoras. Para mais, o calendário não ajudou, antes pelo contrário. Para se ter uma ideia, a prova tinha dois dias em que se jogavam 4 encontros (64 mãos e cerca de 8h30 de cartas na mão). Veja-se então o escalonamento que nos foi “oferecido” para esses 2 dias: Dia 1 – EUA2 (4º), Inglaterra (2º), França (8º) e Canadá (11º). Dia 2 ao abrigo da Lei de Murphy (se algo pode correr mal vai correr pior) – Dinamarca (7º), Polónia (1º), Turquia (5º) e EUA1 (11º).
As quatro jogadoras são dignas da nossa admiração. Para além da resiliência, do espírito de luta e da inegável qualidade técnica existe neste grupo um outro elemento tão fundamental como qualquer dos anteriores: uma enorme cumplicidade e camaradagem entre todas. Os méritos do 13º lugar alcançado devem também ser repartidos pelo António Palma que ao longo de muitos meses tem trabalhado na preparação da equipa e do Álvaro Chaves Rosa pelo trabalho desenvolvido na qualidade de seleccionador e de responsável por toda a logística na preparação da equipa, mas também na qualidade de capitão. (ver nota)

No geral, as selecções nacionais passam mais ou menos ao lado da maioria dos praticantes. Uns não sentem que o assunto lhes diga respeito, outros vão mais longe e criticam a existência de representações nacionais nestas competições. Representar o País é uma honra e uma enorme responsabilidade. Das muitas vezes que acompanhei equipas nacionais posso testemunhar que, sem excepção, estes princípios foram integralmente respeitados pelos nossos representantes. Temos consciência que não podemos, com regularidade, alcançar resultados notáveis ao nível internacional. Mas esta realidade mais meritória torna a forma como os nossos representantes se batem. Honrar o País em geral e o Bridge nacional em particular não se faz apenas com resultados. Faz-se sobretudo com uma atitude competitiva séria, resiliente e com espírito de equipa. Faz-se com o esforço de quem procura sempre fazer melhor. Daí que nunca será de mais agradecer o empenho e a dedicação dos nossos representantes. 

É certo que muito do que se passa nos bastidores da modalidade em nada ajuda a melhorar a percepção do praticante comum sobre a importância de representar Portugal nas competições internacionais. Ao longo dos anos sempre existiu um enorme ruído em torno das selecções. Seja pela contestação aos regulamentos, seja por várias jogadas de bastidores que os deturpam. Nunca existirão regulamentos que recolham unanimidade. Procurar soluções novas é, mais do que um direito, uma obrigação para quem dirige a modalidade. Mas uma vez publicados os regulamentos há que cumpri-los e fazer que sejam cumpridos por todos os intervenientes. 

Não tem sido esta a norma, o que lamento!

Luis Oliveira

A propósito das seleções e da ‘seleção em termos gerais’

por Manuel Oliveira

Compartilho inteiramente os elogios que o Luís Oliveira fez às ‘nossas meninas’ que tiveram a coragem de se aventurar a disputar a mais importante prova do bridge feminino mundial e ao mesmo tempo a capacidade de resistência (detesto o termo da moda – resiliência – usado a torto e a direito, desculpa lá Luís) quer física quer sobretudo mental. Receei mesmo o que se poderia passar depois de duas derrotas pesadas a meio da prova, mas elas reagiram muito bem.

Voltarei ao assunto mais adiante a propósito do tema seleções no âmbito geral.

Quanto à equipa mista, é verdade que se esperava mais, sobretudo depois do seu comportamento na prova de apuramento da EBL, embora em termos de PV’s tenha ficado mais perto da média que a equipa feminina.

Um dos seus pares obteve um excelente resultado no Butler, confirmando a boa época que vem fazendo, o outro de quem se esperava mais atendendo à categoria dos seus componentes e à seriedade com que se preparou esteve abaixo do que pode, e ao terceiro par – de recurso – não se podia pedir muito mais exactamente por ser de recurso e o seu componente masculino ter que acumular as suas funções de jogador com as de capitão da equipa o que representa um desgaste suplementar.

Quanto ao tema seleções também abordado pelo Luís, devo dizer que pertenço ao (pequeno) grupo dos que acham que sendo o bridge português o que é, não existem condições para se participar nos campeonatos internacionais, nomeadamente no campeonato da Europa, embora provavelmente nem todos pelas mesmas razões que eu. O bridge em Portugal é de facto um passatempo (formidável nalguns aspectos) mas não uma actividade desportiva. Os jogadores de bridge não são desportistas nem têm, na sua esmagadora maioria, espírito e preparação desportiva. Repito o bridge é para eles um entretém e nada mais que isso.

A Federação Portuguesa de Bridge é uma entidade artificial do ponto em que existe apenas devido à carolice de uns quantos – cada vez menos – que não são dirigentes mas sim jogadores com espírito de sacrifício e alguns princípios de cidadania. Mal tem meios (actualmente nem isso) para pagar a renda e o ordenado de um funcionário e organizar as provas nacionais, nem a maioria dos seus dirigentes, que, relembro, são simultaneamente jogadores, tem preparação para as funções.

Não tenho nada contra que alguns jogadores com disponibilidade financeira se juntem para ir lá fora representar o País nos campeonatos da Europa ou quaisquer outras provas internacionais, mas custa-me ver a Federação a fingir que é uma entidade a sério e a pedinchar dinheiro ao Estado para mandar equipas representar o País, sem condições para competir em termos de igualdade (mesmo que relativa) com países onde existem jogadores  profissionais (cá só há um e mesmo assim…) e patrocinadores que pagam aos jogadores para participar. Hoje em dia o desporto de competição é para profissionais, por mais que nos custe a aceitar – e a mim custa. Custa verificar por exemplo que os nossos filhos e netos não podem fazer desporto pelo desporto como se fazia dantes, porque os clubes só aceitam quem esteja disposto a dedicar-se a 100% e mesmo destes só os melhores. Veja-se por exemplo o que se passa com

o ténis ou a ginástica. A comprovar isto tudo, o que o Luís refere sobre a indiferença com que a esmagadora maioria dos nossos jogadores encara o tema seleções é bem notória e reforça aquilo que eu penso sobre o assunto.

Voltando à seleção feminina: é sintomático o facto de termos levado apenas dois pares à Venice Cup; não existem em Portugal jogadoras de bridge interessadas e/ou com condições para representar o País  em seleções femininas! E nem vale a pena referir as que preferem, com todo o direito, jogar provas open ou mistas. É mesmo raro haver provas femininas e isto por falta de participantes.

Manuel Oliveira 

BREVES

Por cá segue a balbúrdia com diferentes regulamentos, pelos vistos feitos para “inglês ver”. Agora, numa originalidade à portuguesa, descobriu-se uma nova fórmula para constituir representações nacionais, com os potenciais seleccionados a vetar/escolher o seleccionador. 

Entretanto, mais a sério, estão encontrados os novos campeões do Mundo: Suíça, na Bermuda, Suécia na Venice, Polónia nos Seniores e França nos Mistos. Notas de destaque: Final da Bermuda entre Suíça e Holanda onde foi possível assistir a bridge “do outro mundo”, com todos os ingredientes para nos agarrar ao écran. A eliminação da Polónia na Venice numa meia-final dramática, decidida na última das 96 mãos. Nos Seniores a grande prestação da Índia. Honra aos vencedores e aos vencidos que protagonizaram esta fantástica propaganda da modalidade. 

Lembramos (e apelamos) à participação dos sócios na prova de apuramento para a representação do B4F nas provas oficiais de clubes. As inscrições estão abertas na homepage do nosso site.

 

O CANTINHO DA TÉCNICA - Quadras soltas

Algumas questões retiradas dos recentes Campeonatos do Mundo:

1 – Imagine que está em primeira posição, em Norte, não vulnerável contra vulnerável com: ♠ V92 ♥ 2 ♦ 975 ♣ D109653. O que faz?

2 –  Está a jogar 5♠ após leilão competitivo em que o adversário à sua esquerda abriu em 1ª posição em 3♣. O naipe de trunfo está assim ordenado ♠  10875 em frente a ♠  AD643. Como maneja o naipe de trunfo sabendo que não pode dar mais de 1 vaza no naipe?

3 – Por muito que se trabalhe o sistema de marcação, por muito que se analisem as diferentes situações competitivas sempre aparecem situações novas, decisões a tomar solitárias. Pensem na seguinte situação: (3♥) – 3♠ – (4♥) – 4ST. Como interpretam a voz de 4ST? 

O CANTINHO DA TÉCNICA (as opções)

1- Provavelmente o mesmo que eu faria: Passo! Vamos ver então o que se passou na 5ª ronda das 4 finais: Bermuda: em ambas as salas Norte abriu em 3♣. Na Venice a sueca em Norte abriu em 3♣ a turca passou. Nos seniores em ambas as salas Índia e Polónia abriram em 3♣ e finalmente nos mistos a francesa passou e a americana abriu em 3♣. Em resumo, nas oito mesas, 6 aberturas em 3♣ e 2 passes. 

Podemos argumentar com todas as armas técnicas que conhecemos sobre a qualidade da abertura, mas o que não podemos negar é que o bridge competitivo mudou e muito. O cerne da questão não está bem em saber se estamos ou não de acordo com a abertura, mas em competir em igualdade com os nossos adversários. Este é apenas um dos muitos exemplos que poderia expor. O paradigma competitivo mudou radicalmente, o alto risco passou a fazer parte dos jogadores de topo, perturbar ao máximo o leilão adversário é agora a regra nos grandes palcos internacionais.

2- Quando o objectivo principal é cumprir o contrato marcado há que recorrer às jogadas segurança. Neste caso, faltando RV92, se o naipe estiver 2-2 é indiferente a forma como joga, podendo mesmo não perder vaza nenhuma com RV antes de AD ou com Rx. Mas, e se o naipe não estiver 2-2? Fazer a passagem a espadas perde para R seco fora. Mesmo com V seco fora vai conseguir sobreviver com apenas 1 perdente. Portanto, a opção certa é bater o ♠A.

3- Para os que ainda acham que 4ST é sempre Blackwood a resposta é simples. Mas, nos dias que correm, em situações competitivas muitas vezes o significado é outro. Tudo corre bem com situações identificadas e trabalhadas pelas parcerias. E as que não estão? Na presente situação e para as diferentes opiniões aqui deixo algumas questões (não respostas, porque essas terão de ser encontradas por cada parceria).

3a) O que fazer com um bicolor menor forte sobre 4♥? E se entendermos que a marcação de 4ST deve referir-se a essa possibilidade como perguntar chaves para espadas?

3b) Por outro lado, se entendermos 4ST como Blackwood como marcamos o bicolor menor forte?

Com muitas dúvidas sobre o que fazer nesta situação creio que o mais fácil seria manter 4ST como Blackwood, marcar o melhor dos menores ao nível 5 para mãos fortes mas sem cheleme evidente e 5ST como slam try em menor. Mas este é um assunto que merece reflexão e consulta a jogadores mais habilitados, o que irei fazer.

O contributo do nosso sócio Manuel Oliveira para uma das questões apresentadas

Relativamente ao caso 3 apresentado no ‘cantinho da técnica’ a minha opinião é a seguinte:

Em princípio as opções do jogador em 4ª posição com um bicolor menor (+/-) forte são:

4ST

É a voz ‘que apetece’ mas é quase certo que o parceiro a vai entender como RKCB para espadas; como tal a resposta do parceiro não vai adiantar nada.

Conclusão: voz a evitar

5ST

Poderia à primeira vista parecer a voz que evitaria mal entendidos, mas tem dois grandes inconvenientes:

– Põe o leilão ao nível de cheleme o que é um tiro no escuro dado o parceiro ter mostrado uma mão unicolor, não forte (senão teria começado por dobrar) com provavelmente 6 cartas em espadas.

– E pior ainda, será que o parceiro vai perceber o significado da voz? Se há coisa que se deve evitar no bridge é pôr problemas ao parceiro; a nossa prioridade deve ser, sempre que possível, facilitar a vida ao parceiro. Será que 5ST não será interpretado como ‘joséphine’* para espadas?

5 Oiros

É uma voz que sugere um unicolor a Oiros e a opção sugerida pelo Luís o que não me repugna nada, mas, e se o parceiro tem um bicolor espadas/paus que não pôde indicar com a voz de 4 Copas por a sua mão não ter força suficiente?

Dobre

É a minha opção favorita porque, não sendo nenhuma das outras ‘apetecível’ e tendo todas resultados duvidosos, me parece a mais adequada, embora possa pôr em causa a marcação de um eventual cheleme.

Por curiosidade, um dos nossos pares marcou 7 Espadas que foram dobradas para, salvo erro 4 cabides.

Porque é que isto sucedeu? o (no caso a) jogador(a) em 4ª posição optou por 5ST e o parceiro, pensando que era joséphine* como tinha 2 figuras grandes em espadas marcou 7Espadas! que estavam 6 encostadas à esquerda.

*Joséphine é uma convenção, em desuso porque o seu objectivo passou a ser possível através do RKCB, que pedia ao parceiro para marcar 7 no naipe acordado com 2 ou as 3  figuras grandes no naipe; caso contrário o parceiro marca 6; as respostas podem também ser feitas por steps

Manuel Oliveira

Sobre o engano do par português: Tanto quanto julgo saber, sobre 4♥, o parceiro(a) marcou 4ST que foi entendido como Blackwood com a respectiva resposta. Num último esforço para tentar emendar a mão decidiu marcar 5ST, mas em vez de se fazer luz sobre as suas intenções, a voz foi entendida como uma tentativa de grande cheleme que foi aceite. 

Correcção

O leilão a que me referi ocorreu na ronda 3, no encontro da nossa equipa mista contra a Polónia.

As mãos:

Dador Norte, E/W vulneráveis

Este                                                      Oeste

E —                                                       E – AQJT6

C – AK5                                                C —

O – A9863                                           O – KQJ75

P – QJ872                                            P – 953

Norte abriu em 3 Copas

Com esta mão de Oeste eu teria preferido 4Copas a 3Espadas porque a mão é muito forte. Isto teria evitado o mal entendido. Mesmo não combinado, 4Copas só pode ser um bicolor forte Espadas e Menor.

E com a mão de Este sem dúvida que o melhor é dobrar 4Copas, até porque o parceiro está seguramente chicana em Copas e Ás e Rei de Copas pouco devem servir para um eventual cheleme.

O resultado final foi 6 cabides e não 4 como referi.

A informação que recebi é que Este marcou 5ST sobre 4 Copas de Sul, mas não pude confirmar.

Na outra mesa o par polaco dobrou 4 Copas para 1 cabide o que como defesa não foi brilhante.

As outras mãos:

Norte                                                   Sul

E – xx                                                   K9xxxx

C – QJTxxxx                                       9xx

O – xx                                                  x

P – xx                                                   AKx

Com a saída normal ao K de oiros seguida de A e Q de espadas são 2 cabides.   

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