Porque o bridge é uma paixão

HISTÓRIA DO BRIDGE

 

As primeiras formas rudimentares do WHIST, antepassado do bridge, remontam à primeira metade do século XVI, em Inglaterra – a primeira prova documental data de 1529.

Em meados do século XVII o WHIST atingia uma grande popularidade. Neste jogo, eram distribuídas 13 cartas a cada um dos 4 jogadores, emparceirados 2 a 2, com o objectivo de realizar o máximo de vazas possíveis. Não existia leilão e nenhum dos jogos ficava exposto sobre a mesa. Em 1742 surgiu o primeiro livro dedicado ao WHIST: “Pequeno tratado sobre o WHIST“, de Edmond Hoyles. A obra tornou-se num best seller, originando mesmo o aparecimento de várias edições piratas.

Acredita-se que a primeira experiência de WHIST competitivo tenha ocorrido em Londres, em 1857, sob a direcção de Cavendish. Nos EUA, os primeiros torneios de WHIST surgiram em 1880. O primeiro encontro entre clubes ocorreu em 1883. Só cinco anos mais tarde, em 1888, seria realizada a primeira experiência europeia, na Escócia.

Em 1891 assinala-se a fundação da Liga Americana de WHIST bem como a publicação do primeiro livro sobre organização de torneios, escrito por John Mitchell, que descreveu o primeiro movimento para torneio de pares.

Ao que tudo indica, terá sido na Turquia que o WHIST evoluiu para uma das primeiras formas de BRIDGE, no início do século XIX. Foi também, por essa altura, que surgiu o conceito de declarante em frente a um jogo exposto – o morto.

São vários os relatos que confirmam esta suposição. Um tal de M. Keiley, em carta dirigida a Robert True, afirmava que em 1886 se tornara membro do Clube Khedival, no Cairo, onde o BRIDGE era a principal atracção. Aliás, um dos primeiros nomes do BRIDGE terá sido, precisamente, KHEDIVE. A origem do nome estará relacionada com o título atribuído ao vice-rei turco, durante a ocupação turca do Egipto que durou quase ininterruptamente do século XVI até à I Guerra Mundial.

Outros relatos, referiam um jogo denominado BRITCH que, por volta de 1879, era muito popular nos principais clubes de Constantinopla, tendo rapidamente destronado o WHIST.

Metin Demirsar, um turco residente em Istambul, participante num curso de História e Arquitectura Otomana, refere que um monitor do curso mencionou o BRIDGE como um jogo inventado por soldados ingleses, durante a guerra da Crimeia. O jogo teria ficado a dever o seu nome a uma ponte (Galata Bridge), que ligava as duas partes de Istambul e que era utilizada, diariamente, pelos soldados para se dirigirem a um café, onde jogavam cartas. Esta será, porventura, a referência mais convincente sobre as origens do nome do jogo.

O BRIDGE terá chegado a Nova Iorque em 1893, graças a Henry Barbey. Em Londres, membros do Portland Club começaram a jogá-lo em 1894, pelas mãos de Lord Brougham que o havia aprendido na Índia.

Harold Vanderbilt foi o “pai” do BRIDGE CONTRATO, criado em 1925. Em 1928, o jogo foi adoptado pelos principais clubes nova-iorquinos e, no final desse ano, decorreu o primeiro Campeonato Nacional.

Em 1929 surge a American Bridge League e em 1932 o primeiro Código Internacional, contendo as leis que regulavam o jogo. Em 1930, Ely Culbertson publicou o “Livro Azul do Bridge Contrato“, que se tornou num best seller. Esta obra, absolutamente revolucionária para a época, havia de se tornar a obra nuclear de todos os sistemas modernos. Culbertson foi, através das suas publicações, da sua personalidade e das suas organizações, o grande responsável pelo desenvolvimento do jogo, que nos EUA atingiu uma extraordinária popularidade.

Em 1930 uma equipa americana capitaneada por Culbertson derrotava copiosamente uma formação inglesa comandada por Walter Buller. Durante os anos 30, três entidades independentes – A American Bridge League, a American Whist League e a United States Bridge Association – eram responsáveis pela organização de vários torneios de bridge até que em 1937 surge a A.C.B.L. – American Contract Bridge League.

Em 1935 são organizados os primeiros Campeonatos do Mundo. Outros marcos históricos são os primeiros Campeonatos do Mundo do pós-guerra, em 1950, a criação da Federação Mundial (W.B.F.), em 1958 e a organização das primeiras Olimpíadas de Bridge, em 1960.

Estado Unidos e Itália continuam a ser os grandes dominadores da modalidade. Os primeiros comandam lista de vencedores com o maior número de títulos conquistados, a Itália alcançou 10 títulos consecutivos na época do famoso Blue Team, feito que, dificilmente, poderá ser igualado.

O bridge é hoje reconhecido como um desporto em muitos países, ensinado em Escolas como disciplina não curricular e jogado por milhões de pessoas, de todas as idades, raças e religiões.

 

Escândalos

Ao longo da história da competição foram vários os escândalos que agitaram as águas do bridge internacional. Mais recentemente o par italiano Buratti – Lanzarotti foi acusado e condenado por comunicação ilícita, mas a verdadeira bomba surgiu com a publicação dos vídeos que afastaram das competições os italianos Fantoni – Nunes (números 1 e 2 do ranking mundial), os polacos Balicki e Żmudziński, os alemães Piekarek – Smirnov e Elinescu – Wladow e os israelistas Fisher – Schwartz. Um rude golpe na modalidade de que não vai ser muito fácil recuperar.

Durante os trials americanos (o equivalente a um torneio de selecção), em 1977, Richard Katz e Lawrence Cohen (autores do livro ‘Breakthrough in Bridge’), abandonaram a prova, depois de tomar conhecimento que estavam a ser investigados por suposta transmissão ilícita de informação. Os visados resignaram à sua condição de filiados na ACBL e entraram com um processo em tribunal contra a ACBL e 3 directores de torneio, por difamação de carácter e falsas alegações. A indemnização pedida ascendia a 44 milhões de dólares.Em 23 de Fevrereiro de 1982, chegaram a acordo com a ACBL, tendo recebido uma compensação de 75 000 dólares destinada a cobrir as custas de tribunal e os honorários dos advogados. Ambos os jogadores concordaram em não voltar a jogar como parceria sem autorização prévia do National Board da ACBL. Nenhum pedido para essa autorização seria analisado antes de 1 de Março de 1984 (dois anos depois do acordo). Tanto quanto sabemos, tal autorização nunca chegou a ser pedida.

Na final da Bermuda Bowl, em 1975, encontraram-se as selecções dos EUA e da Itália. Durante a final, Bruce Keidan, um repórter americano, testemunhou uma incrível cena de transmissão ilícita de informação entre um dos pares italianos – Gianfranco Facchini e Sergio Zucchelli – através de movimentos com os pés. O facto foi então testemunhado por várias pessoas e relatados às entidades competentes que repreenderam severamente o par italiano permitindo, no entanto, a sua continuidade em prova. O capitão da equipa americana, Alfred Sheinwold, ameaçou desistir da competição o que só não aconteceu por imposição da ACBL. A Itália ganhou o seu  título mundial e o par Facchini – Zucchelli rapidamente desapareceu da cena internacional.

Na Bermuda Bowl disputada em Buenos Aires, em 1965, ocorreu o mais famoso de todos os escãndalos da história do bridge até à data, que envolveu os ingleses Boris Schapiro e Terence Reese, acusados pelos jogadores americanos Jay Becker e Dorothy Hayden de sinalizarem, com os dedos, o número de cartas de copas que detinham. Foram considerados culpados pela WBF, que os suspendeu por 3 anos, enquanto a Liga Inglesa os considerou inocentes. O caso esteve mesmo à beira de causar embaraços ao nível diplomático e originou dois livros – um com carácter acusatório, escrito por Alan Truscott, intitulado “The Great Bridge Scandal” e outro, em resposta, da autoria de Terence Reese, intitulado “Story of an Accusation”